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Guardando a Fé (um lindo testemunho de Denzel Washington)





Denzel Washington é mais do que apenas uma estrela vencedora do Oscar. Ele é um cristão que leva a sério os papéis que interpreta, mesmo quando eles são um pouco mais sangrentos, como no filme O Livro de Eli.

Denzel Washington é um dos mais bem sucedidos e respeitados atores; além disso, o vencedor de duas edições do Oscar (por Tempo de glória em 1989 e Dia de treinamento em 2001) também é um dos mais respeitados cristãos de Hollywood.

Filho de um pregador pentecostal de Mount Vernon, New York, Washington, 55 anos, é membro ativo, há cerca de 30 anos, da igreja West Angels Church of God in Christ. Ele lê sua Bíblia todas as manhãs, e sempre que possível escolhe papéis através dos quais ele pode direcionar uma mensagem positiva ou até mesmo refletir a profundidade de sua fé pessoal.




Denzel Washington, como Eli, portador da última Bíblia na terra.

É possível encontrar fé por todo lado nesse novo e pós-apocalíptico filme de Washington, O Livro de Eli, que estreia esta sexta-feira [nos EUA] e está sendo anunciado nos outdoors americanos com as palavras ‘A-CRE-DI-TE’ e ‘LI-VRAI-NOS’. No filme, Washington encena o papel de um misterioso viajante que se chama Eli, guiado por Deus para proteger a última cópia da Bíblia que se encontra na terra, e para levá-la para fora do oeste, enquanto vilões tentam tomá-la e usá-la como ‘arma’ de controle.

O personagem de Washington nesse filme é intensamente violento – que acaba com a reputação dos homens vilões com os quais se encontra – até que começa a mudar, depois de encontrar uma menina inocente (Mila Kunis) que o faz lembrar que nós podemos ficar tão obcecados em proteger a Palavra de Deus que acabamos por nos esquecer de viver por meio dela.

Para Washington, ‘viver por meio dela’ é, principalmente, caracterizado pelo amor e sacrifício. A grande mensagem de Eli, segundo o ator, é: “Faça mais pelos outros do que você faria por você mesmo”. Foi uma mensagem apresentada a Washington quando ele ainda era um garoto.

“Nós orávamos por tudo, todos os dias”, disse Washington aos membros da imprensa religiosa na semana passada, em Los Angeles. “E nós sempre terminávamos com ‘Amém, Deus é amor’. Eu pensava que ‘Deus é amor’ fosse apenas uma expressão. Levou um tempo até que eu entendesse o verdadeiro significado daquelas palavras. Não me importo com o livro que você lê, ou com suas convicções – se você não tem amor, se você não consegue amar aqueles que estão ao seu redor, então você não tem nada”.

Embora o ator não seja um grande fã da palavra “religião”, e evita todo tipo de discurso como “eu estou certo e você está errado”, ele não tem vergonha de falar abertamente sobre suas convicções cristãs.

“Creio que Jesus é o Filho de Deus”, ele afirma. “Fui certa vez preenchido em meu coração com o Espírito Santo, e eu sei que isso é real. Eu estava no meu quarto. Comecei a chorar como um bebê, e assustar-me com tamanha realidade. Tentei resistir, para ser honesto. Não entendia o que estava acontecendo. Foi uma experiência muito forte”, completou o astro de Hollywood.

Sentado em sua casa recentemente, lendo a Bíblia (é a terceira vez que ele lê a Bíblia de capa a capa), Washington se deparou com uma passagem sobre sabedoria e entendimento em provérbios 4, que o fez refletir sobre sua vida.

“Estou nessa casa enorme, com todas essas coisas”, ele disse a si mesmo. “Era como se algo estivesse me dizendo, ‘você nunca viu coisas estonteantes seguindo um carro funerário, já? Você não pode carregar todas estas coisas com você. Os egípcios tentaram; eles foram roubados’. Disse a mim mesmo, ‘O que você deseja, Denzel?’ Uma das palavras de minha devocional era ’sabedoria’. Então, eu comecei a orar sobre aquilo, Deus, me dê uma porção de tua sabedoria. Não posso ser mais bem sucedido. Mas eu posso ser alguém melhor. Posso aprender a amar mais, a ser mais compreensivo, a obter mais sabedoria”.

A campanha de marketing inclui toda sorte de terminologia religiosa.

Como seu personagem em O Livro de Eli, Washington acredita em chamadas proféticas, e tenta fazer o máximo que pode para cumprir o chamado de Deus em sua vida, através do trabalho que Ele o deu para fazer. No seu caso, fama mundial e uma brilhante carreira fazem parte de sua história. O ator relembra um episódio de quando tinha 20 anos, que demonstra como ele relaciona sua fé com sua carreira.

Aconteceu no dia 27 de março de 1975, Washington, que tinha sido expulso da escola, estava sentado no salão de beleza de sua mãe. Uma senhora idosa que estava secando seu cabelo e o olhando, e pediu a ele um pedaço de papel, no qual ela escreveu a palavra “profecia”. O nome daquela senhora era Ruth Green, uma das mais idosas de uma das igrejas de sua cidade – conhecida na região por ter o dom da profecia. Naquele dia ela disse a Washington, “meu filho, você viajará o mundo e falará a milhões de pessoas”.

Naquele verão, Washington foi um conselheiro no acampamento da ACM (Associação Cristã de Moços) em Connecticut. Os conselheiros realizavam diversas atividades para as crianças, e alguém sugeriu que Denzel atuasse, pois ele tinha habilidade com aquilo. No outono daquele ano, Washington começou a estudar na Universidade Fordham, no campus Lincoln Center, onde começou a se preparar para ser ator.

“Anos depois”, relembra Washington, “perguntei ao meu pastor se ele pensava que eu tivesse sido chamado para ser um ministro do evangelho, e ele me disse, Bem, você não está falando para milhões de pessoas? Você não tem viajado pelo mundo?”

Reconhecendo que ele foi colocado em uma posição única, Washington se sente compelido a fazer o seu melhor ‘pregando’ mensagens positivas sempre que pode, através de seus papéis.

“Tenho tentado atuar desta forma”, diz ele, “ainda nos piores papéis, como em Dia de treinamento“. A primeira coisa que escrevi em meu script [para Dia de treinamento] foi ‘o salário do pecado é a morte’. No script original, você pode ver que meu personagem morre na televisão. E eu disse ‘Não, não. Para justificar a vida que ele viveu no pior dos estilos, ele deve morrer também da pior forma possível. Ethan [Hawke] me joga para fora do carro, e eu deslizo como uma cobra. Toda a vizinhança se vira contra mim, e então eu tenho um trágico final”.

Foi um pouco mais fácil encenar o papel de Eli em uma direção positiva?; “nem tanto”, afirmou Washington, “porque aquele cara era mais violento do que o personagem de Dia de treinamento“. Ele é mais violento do que Malcolm X”.

De forma similar ao personagem de Washington em Chamas da vingança, entretanto, a violência de Eli é a serviço de proteger um inocente.

“Quando eu fiz Dia de treinamento, havia um oficial da polícia que falava sobre uma porção das Escrituras que menciona que aqueles que estão responsáveis por cuidar dos inocentes recebem o direito de usarem de violência, caso necessário. Ele disse, ‘é com base nisso que eu e meus companheiros de trabalho vivemos. Isso é o que fazemos’. Talvez ele precisasse daquilo para justificar suas ações”, ressaltou Washington.


Ele está guardando a espada do Espírito… e provavelmente a outra espada também.

Embora tenha encenado papéis violentos em filmes como Dia de treinamento, O gângster, e agora em Eli, Washington é, na vida real, um homem dócil, calmo e de família. Casado há 26 anos com Pauletta e pai de quatro filhos – John David, Katia e os gêmeos Malcolm e Olivia – Washington está longe de ser como aquele estereótipo de Hollywood.

Além de seu envolvimento na igreja (ele doou 2.5 milhões de dólares para a construção das novas instalações de sua igreja, em 1995), Washington – que sempre dá seus autógrafos escrevendo “Deus te abençoe” – é um grande patrocinador do programa Boys and girls clubs of America (do qual ele participou quando criança), dentre outra ações de caridade.

Washington, que estará na Broadway nessa primavera, sabe que tem sido abençoado com muito, e não hesita em atribuir toda sua fama e sucesso à graça de Deus.

“Não tem nada a ver comigo”, disse o ator em 2007 a uma entrevistadora da Reader’s Digest. “Recebi algumas habilidades, e as encaro da seguinte forma: O que você fará com o que você tem? Quem será exaltado com isso tudo?”.

Quase no fim de Eli, o personagem de Washington cita a famosa passagem de 2 Timóteo 4.7: “Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé”.

É uma frase que combina com Washington. Ele é uma estrela de Hollywood que, embora não seja perfeito, oferece um raro exemplo de viver cristão em um lugar extremamente aclamado, sem deixar que seu sucesso mexa com sua cabeça. Ao invés disso, permanece firme na Bíblia e em sua aliança com Deus.

Em seus trinta anos de carreira, Denzel Washington tem lutado o bom combate e feito o que muitos não conseguem. Ele tem guardado sua fé.


Traduzido por Daniel Leite Guanaes

fonte:
Cristianismo Hoje
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Fé em quem?



Um enorme equívoco tem sido difundido. Ouvimos constantemente o seguinte: “o importante é ter fé”, “precisamos simplesmente acreditar em alguma coisa”. Ou, ainda: “basta crer”.

Esse tipo de pensamento conduz as pessoas a um caminho obscuro, cujo final é um mundo imaginário e sem saída. Faz que o ser humano tenha fé em qualquer coisa ou em nada. É uma fé sem objetivos, sem fundamentos. Uma fé na fé.


Essa categoria de fé coloca o resultado da crença em si mesma e não em quem se crê. Enfoca somente a intensidade da fé ou no quanto se crê. Não se levam em consideração os fundamentos da fé. Não se analisa. Não se pensa. Não se investiga. Simplesmente se crê.

No âmbito dessa concepção não existe diferença entre ter fé em Cristo e fé num boneco qualquer. Tanto faz ter fé em Deus, Criador soberano, quanto em qualquer deus da mitologia grega. Não há disparidade entre crer na Bíblia, fonte histórica e inspirada, e crer em rabiscos psicografados.

O contexto atual é de surgimento de novas crenças. Religiões são criadas. Deuses sãos inventados. Templos são abertos. Basta escolher aquele tipo de fé que se encaixe ao perfil do praticante. Que faça que ele ou ela se sinta bem. Que deixe a pessoa em alto astral. Depois disso, é só crer!

Será que esse pensamento é correto. Será que tal entendimento é lógico? O simples fato de ter fé é o suficiente? O que mais vale? A fé ou o objeto da fé?

Não precisa ser teólogo ou pastor para responder que tal pensamento está completamente equivocado. Se o simples ato de crer fosse o suficiente, então não precisaríamos de Deus. Não precisaríamos de Cristo. Não precisaríamos de ninguém. Bastaria apenas que tivéssemos fé.

Na relação pessoa –> fé –>objeto (aquele ou aquilo em quem se tem fé) o que mais importa não é o tamanho da fé nem ao que ela remete, mas especialmente a quem ela reclama. Assim, de nada adianta ter uma enorme fé em algo que não tem o poder de salvar ou transformar. De nada vale crer incondicionalmente num objeto sem força, incompetente ou incapaz. Ou, ainda, de nada valerá crer na intensidade supostamente meritória do próprio ato de crer.

Cristo demonstrou isso com as seguintes palavras: “E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?” (Jo 11.26); “Quem crê em mim nunca terá sede” (Jo 6.35); “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6.47).

Nas palavras de Jesus, o mais importante era a pessoa na qual a fé estava alicerçada (Ele) e não o tamanho da fé da pessoa. Tanto é que, em outra ocasião, Jesus argumentou que uma fé do tamanho de um grão de mostarda traria resultado (Mt 17.20).

Crendo em Deus foi que Elias enfrentou os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal. Esses possuidores de uma gigantesca fé no seu deus Baal invocaram-no da manhã até a tarde sem, no entanto, receberem uma resposta. Gritavam, saltavam e até se cortavam com facas à espera de um retorno. Demonstraram uma fé enorme, uma crença admirável, porém, uma fé em algo ou alguém que não poderia atendê-los.

Criam num objeto inanimado, incapaz, sem poder nenhum. Não falava, não agia, não transformava. Elias até caçoou, dizendo: “Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará” (1Rs 18.27). As Escrituras ainda nos dizem que o profeta se aproximou e disse: “Ó Senhor Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, que conforme a tua palavra fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo conheça que tu és o Senhor Deus e que tu fizeste voltar o seu coração”. Uma oração simples, porém, embasada numa fé correta e direcionada ao Deus verdadeiro. Então caiu fogo do Senhor e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego. Vendo isso, as pessoas caíram sobre os seus próprios rostos e disseram: “Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus” (1Rs 18.36-39).

Baal é o que não falta atualmente. E pessoas para o adorarem também não. Detentores de enorme fé em deuses irreais, imaginários, fantasmagóricos. Fé em nada. Crença sem objetivo. Sem resultados. Sem salvação. Sem transformação. Fé que não remove nem cutícula de unha. Não muda situações. Não vivifica.

A fé em Cristo, por outro lado, por menor que seja, salva, transforma e traz vida abundante!



Valmir Nascimento Santos

www.icp.com.br
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A fé que move a China



No país mais populoso do mundo, 3 doutrinas se influenciam para formar uma religião que só existe lá - e explica o jeito chinês de ser


"Todo chinês é taoísta em casa, confucionista na rua e budista na hora da morte”. Para muitos estudiosos, esse ditado chinês resume a complexa espiritualidade da nação mais antiga do mundo. Em seus 5 mil anos de história, a China teve a alma moldada pelos livros dessas 3 doutrinas, surgidas há mais de 20 séculos. Por isso, apesar do vertiginoso crescimento econômico que moderniza o país a toque de caixa, quem quiser entender a China de hoje precisa voltar o olhar para o passado distante. Enquanto arranha-céus e canteiros de obras mudam a face das milenares metrópoles chinesas, Confúcio, Tao e Buda ainda explicam muito sobre os chineses e sua relação com o mundo. Em vez de se excluírem, essas doutrinas se misturam como ingredientes de uma poderosa salada espiritual – a chamada “religião tradicional chinesa”, que inclui de filosofia e regras de etiqueta a magias, talismãs e reencarnação. Nas próximas páginas, você vai entender como se formou essa tríade sagrada, cujas origens se perdem na lenda e cujos ensinamentos regem a vida de mais de 1 bilhão de pessoas.
Num país em que sabedoria conta mais que santidade, nenhum sábio desfruta de tanto prestígio quanto Kung-Fu-Tzu – o “Venerável Mestre Kung”, também conhecido por seu nome latinizado, Confúcio. Nascido no século 5 a.C. – uma época de guerras, fome e miséria –, Confúcio estava mais interessado em reformar o mundo dos homens do que em desvendar os mistérios do Universo. E buscou o antídoto para os problemas sociais em clássicos da civilização chinesa: ao longo da vida, ele compilou, editou e comentou um conjunto de obras hoje conhecidas como Clássicos Confucianos (leia mais na página 24). Nos séculos seguintes, discípulos e seguidores reuniram os ensinamentos do mestre nos Analectos e transformaram o confucionismo na ideologia oficial do império.

A filosofia de Confúcio se baseia no conceito de ren, termo que pode ser traduzido por “benevolência” ou “humanismo”. Para ele, um sábio deve medir suas ações tendo em vista o bem da humanidade – tanto as gerações presentes quanto as futuras. Esse apelo ao altruísmo universal se resume na máxima cunhada pelo mestre 400 anos antes de Jesus Cristo: “Não faças aos outros o que não desejes que te façam”. Outro conceito essencial do confucionismo é o li, que pode ser traduzido como “ordenamento social”. Confúcio acreditava que só poderia haver harmonia entre os homens se cada indivíduo seguisse à risca as normas de sua sociedade – incluindo respeito à hierarquia e etiqueta.

“Socialmente – ou seja, ‘na rua’ – o chinês moderno ainda é profundamente confuciano”, diz o sinólogo André Bueno, do Departamento de História e Filosofia da Faculdade Estadual de União de Vitória, Paraná. O apreço pelas regras de etiqueta pode parecer estranho aos olhos de outros povos – um tipo de choque cultural que ocorre com freqüência entre empresários ocidentais que vão fazer negócios na China. Um exemplo bem atual da obsessão confuciana por esses protocolos: entre os chineses, cartões comerciais devem ser apresentados com os braços estendidos, uma suave reverência com a cabeça e a palma das mãos voltadas para o interlocutor. Quem entrega seu cartão com displicência se arrisca a arruinar transações milionárias. Exagero? Não, confucionismo.

Apesar de sua influência sobre a espiritualidade chinesa, o confucionismo está mais para filosofia ética do que religião. Confúcio nada disse sobre vida após a morte, e há quem diga que era ateu. Para Kung-Fu-Tzu, o sábio deveria fazer o bem pelo bem, sem esperar recompensas divinas. O que soou muito estranho para os missionários cristãos que chegaram à China a partir do século 15 e passaram a descrever o confucionismo como “religião oficial” do país. É verdade que o cético e pragmático mestre Kung pregava o respeito aos cultos tradicionais como forma de coesão social. Mas foi nas outras duas faces da tríade, o taoísmo e o budismo, que a alma chinesa saciou seu apetite pela transcendência.


Manancial de superstições

Para alguns estudiosos, o taoísmo é a viga mais forte do templo espiritual chinês, e sua influência sobre práticas típicas da cultura chinesa, como o feng shui e o tai chi chuan, são provas disso. A palavra Tao – “caminho” ou “curso” em mandarim – indica a força primordial que mantém o Universo em equilíbrio. Não é uma divindade antropomorfa, à maneira judaico-cristã, mas uma espécie de energia impessoal que se move por trás de tudo que existe. Segundo o taoísmo, o fluxo do Tao é regido pela transição entre yin e yang, os pares de opostos que formam o cosmos: macho e fêmea, luz e sombra, quente e frio etc. Essas idéias são antigas como a China e remetem aos xamãs da Pré-História – mas o primeiro a elaborá-las em forma de filosofia foi Lao-tsé. Embora não se saiba ao certo se ele viveu uma geração antes ou 100 anos depois de Confúcio, todas as referências concordam que ele foi o autor do primeiro cânone do taoísmo, o Tao Te Ching ou “Clássico do Caminho e da Virtude”.

Se o ideal de Confúcio era reformar a sociedade, o de Lao-tsé era harmonizar o ser humano com o Cosmos. “O homem segue a Terra, a Terra segue o Céu, o Céu segue o Tao, e o Tao segue a si mesmo” – é um dos versos mais famosos de sua fascinante e obscura obra. Mais individualista que Confúcio, Lao-tsé pregava uma vida simples, em comunhão com as energias da natureza e longe das turbulências da política. Essa busca de equilíbrio entre o indivíduo e o Universo é o que rege, ainda hoje, a disposição das mobílias segundo o feng shui, os movimentos do tai chi chuan e os exercícios de disciplina das artes marciais chinesas.

“Até o século 4, o taoísmo era uma filosofia de vida, principalmente. Depois, tomou ares de religião”, explica o sinólogo Bueno. Em sua vertente mística, o taoísmo se aproxima do animismo – a idéia de que todas as coisas, incluindo pedras e plantas, são dotadas de “espírito” e “poder”. Daí a multidão de feitiços, encantamentos e simpatias que o taoísmo assimilou com o tempo. Na Idade Média, os sacerdotes taoístas não se limitavam a meditar: praticavam a alquimia, buscavam a imortalidade em elixires mágicos e diziam ter superpoderes, como o de voar pelos céus à noite. Ao lado da vertente filosófica, muitas superstições do panteão taoísta continuam vivas até hoje. Um exemplo: quando um chinês tem problemas domésticos, costuma pôr a culpa na presença de gênios mal-humorados em sua casa. O jeito é contratar os serviços de algum sacerdote taoísta especializado em exorcismos – cujos rituais se parecem com os da umbanda brasileira, com direito a banhos de sal grosso e golpes de folha de arruda nos exorcizados. “Mesmo para quem vem de um país como o Brasil, a quantidade de crenças e superstições populares que existem na China é enorme”, diz a antropóloga especialista em China Rosana Pinheiro Machado, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


A salvação da alma

Mas com todos seus feitiços e meditações o taoísmo nada diz sobre a vida após a morte. E é aí que entra o budismo, fundado também por volta do século 5 a.C., na Índia. Siddharta Gautama (o Buda) viveu na época de Confúcio e Lao-tsé – mas foi só por volta do século 1 a.C. que obras budistas chegaram à China, com viajantes que cruzavam o Himalaia. Entre os conceitos budistas que “colaram” na China está o “nirvana”, estado de elevação espiritual em que todo sofrimento desaparece, e o “samsara”, que pode ser entendido como reencarnação. Durante séculos, monges chineses traduziram obras em línguas indianas e compuseram seus próprios tratados em mandarim – o resultado disso tudo é a coleção conhecida como Grande Tesouro das Escrituras, compilado no século 10.

O budismo original se dividia em duas escolas: o Theravada, mais cético e filosófico, e o Mahayana, uma espécie de caldeirão de crenças que aceita a existência de deuses, espíritos e criaturas fantásticas, como demônios e serpentes falantes. Foi esta versão que fez sucesso no país de Confúcio, dando origem a duas formas de budismo típicas da China. Uma é o chan, ou zen, que misturou crenças budistas a práticas de meditação do taoísmo. A outra é o “terra pura”, ramo mais popular, que venera diversos espíritos iluminados em vez de um único Buda.

E assim deciframos a última parte do enigmático provérbio citado lá no início. Pois é na hora da morte que o pragmático chinês renuncia às preocupações desse mundo e chama monges budistas para recitarem os sutras – textos sagrados que garantem sorte na próxima encarnação. “O raciocínio é simples: se corremos o risco de reencarnar, então é melhor chamar um especialista”, resume o sinólogo Bueno. Mais chinês, impossível.

A tríade espiritual passaria por maus bocados a partir de 1949, quando o país foi dominado pela ditadura comunista de Mao Tsé-tung. Por sua ênfase na reflexão individual, o confucionismo virou ideologia “burguesa”. Enquanto isso, as práticas budistas e taoístas eram descartadas como “superstições abomináveis”. Os livros foram proibidos e muitos queimados. Mas a repressão mal afrouxou, na década de 1980, e a borbulhante religiosidade chinesa voltou à tona, com resultados muitas vezes irônicos. É o caso do destino póstumo de Mao Tsé-tung. Alguns anos após sua morte, o ditador ateu passou a ser venerado como espírito do panteão taoísta. Hoje, quase todos os táxis de Pequim têm um amuleto no retrovisor, onde se vê a fotografia de Mao cercada de franjas e sininhos – uma simpatia contra acidente de trânsito.

Assim como sua efígie, a ideologia de Mao também foi virada pelo avesso por seus sucessores. Quando abriu a economia chinesa, por volta de 1988, o reformista Deng Xiaoping justificou sua traição ao marxismo com uma tirada tipicamente chinesa: “Não importa se o gato é preto ou branco. Importa que cace ratos”. Nos anos seguintes, o onívoro dragão chinês, que já tinha digerido a doutrina de Marx, fez o mesmo com o capitalismo – transformando essas duas ideologias ocidentais em algo, digamos, bem chinês. O que não é de estranhar no país de Confúcio, que também cunhou outra máxima famosa: “Devemos copiar o que admiramos, para depois superá-lo”.



Genealogia das escrituras chinesas

As religiões chinesas têm vários cânones religiosos, os ching, em mandarim. Mas seu conteúdo não é considerado a palavra de Deus, e sim o repositório de milênios de sabedoria humana. Confira a história dos principais livros que deram forma e sentido à espiritualidade chinesa.

I CHING (Cerca de 3000 A.C.)

Considerado o livro mais antigo da China, foi escrito por Fu Hsi, imperador legendário que viu um dragão emergir das águas com símbolos geométricos gravados nas costas: os 64 hexagramas do I Ching. Mais tarde, sábios escreveram interpretações para os sinais, formando o livro I Ching. Nessa obra, surgiu o conceito de yin-yang, base de todo o pensamento chinês. Os hexagramas são usados até hoje para adivinhações na China e na Coréia.

TAO TECHING (cerca de 500 A.C.)

Muitas lendas envolvem Lao-tsé – suposto autor do maior clássico do taoísmo. Segundo a mais famosa, o sábio teria abandonado a China para viver como eremita em terras ocidentais. Lao teria escrito o Tao Te Ching a pedido de um guarda da fronteira, quando deixava sua província. A obra fala da relação entre o ser humano e o Tao – força primordial que move o Cosmos. Para historiadores, o Tao Te Ching foi escrito por diversas pessoas entre os séculos 4 e 3 a.C..

CLÁSSICOS CONFUCIANOS (500 A.C.)

Confúcio passou boa parte da vida comentando as obras mais importantes da tradição chinesa. O I Ching é o primeiro dos Clássicos Confucianos como ficou conhecido o conjunto da obra, que serviu de base à educação chinesa durante milênios. A obra tem no total 13 livros. Os 5 principais, incluem, além do I Ching, o Chu Ching (“Clássico da História”), o Chi Ching (“Clássico da Poesia”) e o Shi Ching ("Clássico da Música").

ANALECTOS (500 a 200 a.c.)

Após a morte de Confúcio, seus seguidores acrescentaram ao cânone os Analectos – coleção de diálogos e ditos do mestre, compilados por seus discípulos em 22 capítulos.

O TRIPITAKA (100 a.C.)

Siddharta Gautama, o Buda, elaborou sua doutrina entre os séculos 6 e 5 a.C. – mas não deixou nenhuma palavra por escrito. Seus ensinamentos foram memorizados por um assistente e em seguida preservados pela tradição oral entre monges budistas. No século 1 a.C., monges do Sri Lanka os transcreveram, dando origem ao Tripitaka (“Os Três Cestos”, em páli). A obra trata de questões teológicas, sermões do Buda sobre a moral e o destino e regras de disciplina para os monges. O texto é o cânone do Teravada, versão mais tradicional e filosófica do budismo.

SUTRAS MAHAYANAS (100 A.C. a 100)

Outra vertente budista, o Mahayana, surgiu por volta do século 1 a.C. Mais mística que o Teravada, e fonte principal do budismo chinês, ela inclui a crença em seres fantásticos como demônios, fantasmas e serpentes gigantes. Seus textos sagrados são os “Sutras Mahayanas”, escritos no início da era cristã, no idioma sânscrito.

GRANDE TESOURO DAS ESCRITURAS (983)

No século 1 a.C. os textos budistas começaram a ser levados à China por viajantes que cruzavam o Himalaia, cadeia de montanhas que separa o país da Índia. Nos séculos seguintes, os eles foram traduzidos para o mandarim, dando origem a formas de budismo típicas da China, como o chan (ou zen) e a vertente conhecida como “terra pura”. Em 983, as escrituras em chinês foram reunidas no Grande Tesouro das Escrituras, que integra mais de 2 mil textos individuais e também influenciou o budismo no Japão e no Tibete.



José Francisco Botelho
Revista superinteressante
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